Um dos temas a serem tratados no Fórum Mundial em Davos.

Depois de alguma hesitação e reflexão, resolvi dar a minha visão e, em alguns casos, compartilhar a minha própria experiência sobre vários temas que hoje ocupam os Mainstream em todo o Mundo.

Procurarei manter uma regularidade bimensal na apresentação das minhas reflexões. Iriei abordar temas macro económicos em geral e, em especial, dedicarei várias textos ao novo fenómeno – cripto moedas – e às suas implicações a curto e médio prazo.

Hoje irei procurar analisar as duas principais posturas sobre o Tema: Poderemos ter uma crise Financeira em 2018 ?

Vou analisar os principais argumentos dos Otimistas e os Céticos sobre esta  possibilidade ocorrer a curto prazo.

Antes de mais, uma reflexão: nenhum economista, nem mesmo os  mais bem preparados e  com Prémios Nobéis , têm condições de prever se teremos hoje ou dentro de meses, uma crise financeira  semelhante à de 2008, 2000 ou outras.  As crises financeiras são situações muito complexas, que dependem de múltiplos fatores,  já para não falar de fenómenos exógenos com ameaças de guerra (vide exemplo EUA, vs Coreia do Norte) que os Mercados, de maneira alguma, ainda precificaram.

Argumentos para a possibilidade de uma crise finaceira em 2018.

 Opinião dos otimistas

Linhas de reflexão dos argumentos dos Otimistas relativamente à possibilidade de uma Crise Financeira em 2018:

  1. Pensam que são remotas as possibilidades, pois não detetam, à data de hoje, desequilíbrios críticos que possam dar origem a uma reversão da situação Financeira atual
  2. O sistema Financeiro mundial tem muita liquidez, pois os principais Bancos Centrais desenvolveram uma política monetária fortemente expansiva.
  3. Há um crescimento do Produto Mundial muito elevado (últimas previsões: cerca de 3,9 % este ano) e este será o melhor ano da última década.
  4. O crescimento forte está difundido por muitos Países pois estes tomaram medidas de ajustamento no passado e agora estão a colher os resultados.
  5. É um crescimento transversal em todas as regiões a nível mundial, desde as Américas (Norte e Central), passando pela Europa e Ásia, em particular o Japão.
  6. Os Bancos não estão alavancados como estavam no passado, dadas as atuais políticas fortemente regulatórias.
  7. Taxas de juros muito baixas, que estimulam o crescimento económico a nível mundial, pois elas são propagadas a todas as regiões do Globo.

Argumentos dos Céticos

Linhas de reflexão dos argumentos dos Céticos, para com a possibilidade de uma Crise financeira em 2018:

“Os Governos já não controlam mais as suas Políticas Monetárias, nuvens negras se aproximam” – in Relatório de risco do Fórum Mundial

  1. Uma política monetária de injeção de liquidez, extremamente agressiva, nos últimos 10 anos, com juros muito baixos, encabeçada pelos principais Bancos Centrais do Mundo (EUA, Europa, Japão) vai ser insustentável, pois está a ser atingido o pleno emprego em algumas regiões, nomeadamente nos EUA.
  2. Os três principais Bancos Centrais do Mundo têm balanços muito elevados, fora dos critérios de razoabilidade, pois compraram cerca de 8,35 triliões de USD que injetaram na economia Mundial.
  3. Nas três regiões- EUA, Europa e Japão- como produto só cresceu no período cerca de 2,2 triliões de USD, assim o restante comprado pelos Bancos Centrais foi distribuído pelas outras Regiões.
  4. O rácio Preço das AçõesAtivos a nível Mundial está, muito elevado comparativamente ao lucro líquido. Na ultima década, o valor das empresas em Bolsa passou de 35 triliões de USD para uma previsão de 85 triliões de USD no final deste semestre, o que configura uma potencial “Bolha“ de grandes dimensões.
  5. As novas políiticas fiscais nos EUA de desoneração de impostos para as empresas são muito agressivas e não são compatíveis com um maior crescimento do Produto Interno Líquido, pois a sua economia está quase com pleno emprego.
  6. Vamos assistir à rápida degradação da poupança Interna Pública, nos EUA como consequência da menor arrecadação de impostos.
  7. A China também optou por utilizar fundamentalmente a sua poupança interna com sua política macro económica de fortes investimentos domésticos.
  8. Os EUA já começaram a deixar de comprar títulos de Tesouro e, a qualquer momento, os juros vão começar a aumentar para diluir as tensões inflacionárias, relacionadas com os acréscimos salariais (dado o quase pleno emprego nos EUA que já está num ciclo mais avançado do que na Europa e Japão).

Conclusão

À primeira vista, os otimistas parecem ter bons argumentos, há uma sensação de bem-estar, de novas oportunidades de negócios, juros baixos, saltos tecnológicos, forte crescimento do PIB a nível Mundial.

O cidadão sente a sua vida a ficar mais confortável e, sobretudo, há a ilusão de que estamos numa fase de grande estabilidade – aumento dos resultados económicos e financeiros que melhorará o nível de vida no curto prazo para todos os empresários e cidadãos destes Países.

Não é essa a minha opinião!

Penso que estamos a chegar ao fim de um Ciclo, de prosperidade a nível Mundial nas Grandes Economias, em particular nos EUA (a mais avançada no Ciclo).

Logo se seguirá a Europa, Japão e os outros restantes Países com significativas participações no PIB Mundial (com um maior atraso no ciclo económico).

Este é o resultado de uma política monetária dos principais Bancos Centrais demasiadamente agressiva, de forma a ultrapassarem a crise dos últimos 10 anos.

Como todos sabemos, o Mundo ainda está muito Dollarizado: qualquer medida de ajustamento nos EUA terá efeitos exponenciais em todo o resto do Mundo e travará o desenvolvimento das regiões com Ciclos mais atrasados no seu processo de esgotamento – como é o caso da Europa e Japão.

O que vamos ver com forte impacto no fim de 2018 e durante 2019 e 2020?

  • Vamos ter um aumento das taxas de juros nos EUA de 0.75% até ao final deste ano e, provavelmente, de mais 1.5% em 2019;
  • Vamos assistir a uma redução drástica da liquidez, dadas as perspetivas inflacionárias crescentes, com os plenos empregos nos EUA e depois nas outras regiões a nível Mundial.
  • Consequências imediatas: Diminuição de liquidez no sistema irá proporcionar uma corrida na desvalorizações dos ativos, em particular na Bolsa, que poderão atingir no mínimo 30%, e em alguns casos, 50%, de uma forma muito rápida.
  • Generalização de um grande ceticismo no crescimento futuro das principais Economias, bem como um adiamento de Novos Investimentos.

A Crise Financeira com início no segundo semestre de 2019 se alargará, em 2020, a nível Mundial, com consequências muito difíceis de prever hoje!

Quem dera que esteja errado!

19 01 2017

Armando Faria

Economista